SPOCK É ETERNO – PARTE 2


Nimoy shatner peqTexto de Marcio Seixas

Quando fui indicado pra redublar o senhor SPOCK, fiquei desorientado de tanta excitação. Não podia receber maior honraria.

Eu adorava a série, que assistia na cabine de locução da TV VILA RICA em Belo Horizonte. É, sou desse tempo em que o locutor de cabine lia ao vivo os textos de chamada e os comerciais da emissora.  1969 para ser exato. O sinal da tv era ruim, imagem em preto e branco, som ruim. Eu amava a abertura épica ao som de trompas, as aventuras…

Uma geração inteira depois, eu teria a honra de ser escolhido para dublar o meu personagem preferido. Com 20 anos de atividades na dublagem eu me garantia, claro. Ou pensava que me garantia. Já era fixo de séries adoráveis como STARSKY E HUTCH, narrador fixo das histórias de DISNEYLÂNDIA da TV GLOBO, voz do personagem  DIRTY HARRY de Clint Eastwood, JAMES BOND. Na data marcada para o inicio da redublagem cheguei à VTI querendo entrar logo em estúdio. Foi quando os trekkers me trouxeram à realidade. Eram cerca de seis pessoas  lideradas por  Cristina Nastasi.

Aquela adorável menina, quase a metade do meu tamanho, aparência de intelectual com seus óculos de grau forte e seu jeito afável, me desmontou partícula por partícula, dizendo como eu deveria dublar o SPOCK. Começava ali a maior dificuldade que enfrentei como dublador. Acostumado a “pentear” e a improvisar sobre as péssimas traduções, eu já estava viciado em modificar minhas falas na Herbert Richers, tentando fazê-las mais coloquiais, livres de vícios de tradução. Mal eu sabia o que me esperava. Os trekkers ficaram na técnica, com os olhos grudados em mim, sem esconder que estavam me fiscalizando. Nunca me senti tão mal, tão sem liberdade. Felizmente obtive a aprovação dos cultuadores da série. Deus do céu, mas a que custo!

Tudo o que dissesse respeito a Leonard Nimoy chamava minha atenção. No filme TRÊS SOLTEIRÕES E UM BEBÊ dirigido por ele há uma cena memorável: Tom Seleck lê para o bebê em seu colo com voz bem calma, sussurrada, bem linear, sem arroubo nenhum ao passo que o bebê lutava contra o sono. O texto… Uma reportagem sobre baseball! Os colegas, achando estranha tal leitura, cobram por sinais de expressão facial a maluquice dele.

A resposta só pode ter sido criada no roteiro por Nimoy: com a mesma voz carinhosa e soprosa  que lia para o garoto, responde aos outros solteirões: “não importa o assunto, desde que você fale ou leia da maneira como estou fazendo”…

Esse é o jeito Nimoy de ser, que durante todo tempo de produção dos episódios de JORNADA,  foi a vítima preferida das molecagens de William Shatner, o capitão Kirk. Shatner era o palhaço do grupo divertindo atores e equipe técnica com as imitações, piadas, brincadeiras no set de filmagem. No seu livro NÃO SOU SPOCK, Nimoy diz que por mais que se precavesse, sempre caía em alguma armadilha preparada por Shatner. Uma delas foi a bicicleta que sumia. Morando perto dos estúdios Paramount, ele pedalava pra ir trabalhar. Pois não é que o gaiato Shatner de vez em quando desaparecia com a bicicleta dele? Nossa mãe, hoje passei do ponto. Pessoal, mil perdões. Mas acho que vocês vão curtir. Vou voltar aqui breve, tá? Com mais informações sobre Leonard Nimoy. Até breve.

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1 Responses

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  • André on

    Nossa, gostei muito do seu texto sr. Seixas.


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